O tratamento da paralisia do nervo facial deve ser individualizado e depende da causa, tempo decorrido desde a lesão e a intensidade da paralisia que varia de uma paralisia leve a total. Para graduar a paralisia existe uma série de classificações. A que utilizamos no nosso serviço é a de House-Brackmann.
Os casos de paralisia leve podem ser tratados com medidas não cirúrgicas. A face pode ser simetrizada através de aplicações de Botox em certos lugares da face acometida para diminuir retrações ou na face contralateral para enfraquecer alguns músculos e balancear a face. Algumas vezes recomendamos o uso de preenchimento que pode ser útil em alguns casos para dar suporte ao lábio inferior e melhorar a contenção de líquidos. As medidas fisioterápicas também podem ajudar muito nesses casos.
Nos casos de paralisia mais extensas ou paralisias totais, geralmente recomendamos o tratamento cirúrgico. A modalidade de tratamento vai depender da causa e do tempo de lesão.
Vamos discutir inicialmente os casos de paralisia mais recentes (até 1 ano e meio após a lesão).
Nesses casos optamos pela reconstrução do nervo facial com sutura, interposição de enxertos ou com transferências nervosas.
Numa lesão traumática por um corte na face, por exemplo, podemos encontrar os cotos proximal e distal do nervo e suturá-los ao microscópio cirúrgico.
Quando os cotos estão muito afastados seja porque parte do nervo foi removido (como ocorre em ressecções por tumores) ou porque já se passou algum tempo da lesão (os cotos vão se afastando progressivamente um do outro), a reconstrução só é possível com a interposição de enxerto de nervo. Nesses casos usamos um nervo sensitivo retirado da perna que não causa maiores sequelas locais – o nervo sural.
A situação se complica quando não temos disponível a parte próximal do nervo facial como ocorre na paralisia de Bell ou na paralisia após ressecções tumorais intra-cranianas. Nesses casos a função é restabelecida através de transferências nervosas. Nesse procedimento fibras de outros nervos na face ou região do pescoço são direcionados para o coto distal do nervo facial acometido com a finalidade de reanimar os músculos paralisados.
Os nervos que utilizamos nas transferências nervosas são o nervo do masseter (nervo que vai para o músculo da mastigação) e parte do nervo hipoglosso (nervo que vai para a língua) e alguns ramos redundantes do nervo facial do outro lado (enxerto cross-facial).
Na nossa experiência os enxertos cross-faciais não restauram força suficiente aos músculos acometidos, porém têm a vantagem de proporcionar movimentos mais naturais e congruentes com a emoção da pessoa. Por isso geralmente usamos essa transferência conjuntamente com o nervo do masseter ou com o nervo hipoglosso.
Nas paralisias ocorridas com a mais de 2 anos já podem ser observadas alterações irreversíveis nos músculos da face que vão gradualmente se transformando em gordura e tecido fibroso. Nesses casos não há mais possibilidade de reconstruir os nervos, já que o tecido muscular da face não está mais funcional.
Nesse caso indicamos a cirurgia de transplante muscular. Nesse procedimento um segmento de um dos músculos da coxa (o músculo grácil) é transplantado para a face e os vasos sanguíneos e nervos do músculo são suturados com técnica microcirúrgica à nervos e vasos sanguíneos da face. O nervo que utilizamos para ligar ao músculo é o nervo do músculo masseter. Algumas vezes combinamos esse nervo com um nervo do outro lado da face (enxerto cross-facial) para dar mais espontaneidade ao sorriso. Se for optado por essa utilização de 2 nervos para o transplante muscular, o procedimento é feito em 2 tempos, sendo as cirurgias separadas por um período de 6 meses a 1 ano.
Além desses procedimentos avançados, a depender das expectativas do paciente, idade e presença de doenças crônicas, procedimentos mais simples podem ser feitos para simetrizar a face e até proporcionar algum grau de reanimação. Uma cirurgia estática que utilizamos é a cirurgia de suspensão da face com um segmento de fáscia retirado do músculo tensor da fáscia lata (músculo da coxa). Esse procedimento proporciona uma simetria facial em repouso. Outro procedimento utilizado é a transferência distal do músculo temporal para a comissura da boca. Esse procedimento tem como objetivo simetrizar a face e possibilitar o paciente de sorrir.