Reconstrução de Cabeça e Pescoço

GENERALIDADES

Os tumores malignos mais comuns na região da cabeça e pescoço são os tumores de células escamosas. Os fatores predisponentes mais importantes são o tabagismo, traumatismo de repetição na mucosa (ex. dentaduras mal ajustadas), infecção pelo HPV e alcoolismo.

Em nosso meio esses tumores frequentemente são descobertos em fase avançada o que resulta na necessidade de ressecções extensas na região.

Essas ressecções envolvem áreas grandes de pele na face e mucosa bucal. Algumas vezes envolvem ainda parte da mandíbula e maxila ou parte de outros ossos da face. A depender da localização do tumor pode ser necessário a ressecção da língua, nariz, orofaringe e até de partes da traqueia.

As reconstruções com técnicas que empregam tecidos locais são muito limitadas, geralmente não são esteticamente adequadas e frequentemente deixam o paciente com sequelas funcionais graves. Em muitos casos eles perdem a função de mastigação, a capacidade de engolir alimentos, da fala etc.

Muitos pacientes passam a conviver com uma traqueostomia e sonda nasogástrica para se alimentar.

Felizmente com o advento da microcirurgia há a possibilidade de reconstruções mais estéticas e funcionais que possibilita ao paciente na maioria dos casos um retorno adequado ao seu convívio social e atividades laborativas normais. A seguir abordaremos as reconstruções mais comumente realizadas por nossa equipe.

Em nosso meio, frequentemente o paciente chega para tratamento com tumores avançado, necessitando ressecções extensas da face.
Paciente operado de carcinoma que acometia mucosa bucal e mandíbula. Foi reconstruído com técnicas convencionais de rotação de retalho da região peitoral. Não houve a possibilidade de reconstrução da mandíbula, o que causou interferência com a deglutição e respiração, havendo a necessidade da utilização permanente de uma traqueostomia (para respiração) e sonda nasogástrica para alimentação.

RECONSTRUÇÃO CUTÂNEA DA FACE

Os cirurgiões oncológicos ou de cabeça e pescoço frequentemente necessitam a remoção de amplas áreas da face durante a ressecção de certos tumores. A reconstrução com microcirurgia possibilita a utilização de tecidos cutâneos de outra região e que tenham características semelhantes de aspecto e espessura à pele da face. Com isso conseguimos fazer reconstruções mais estéticas e com menos sofrimento para o paciente. As alternativas ás reconstruções com microcirurgia são a utilização de segmentos de pele do ombro, tórax, pescoço ou couro cabeludo. Os resultados com esses procedimentos são inferiores ao da microcirurgia já que resulta em grandes cicatrizes e deformidades nas áreas de onde foram retirados.

CASO CLÍNICO

Paciente apresentando osteonecrose e osteomielite da mandíbula, submeteu-se a resseção de pele e parte da mandíbula. A reconstrução foi feita com retalho microcirúrgico retirado do antebraço.

Como a paciente optou por não reconstruir a parte óssea, observa-se uma depressão no local da mandíbula que foi removida.

RECONSTRUÇÃO DE MANDÍBULA

Os tumores malignos da mucosa da boca, muitas vezes invadem os ossos da maxila ou mandíbula. Se isso ocorrer, o cirurgião necessita remover um segmento de extensão variável da mandíbula ou maxila. Para restaurar o contorno da face, a função de mastigação e a função respiratória, é necessário que o osso seja reconstruído. As técnicas que trazem os melhores resultados em termo de reconstrução óssea é o transplante microvascular da fíbula ou o transplante microvascular de parte do rádio (um dos ossos do antebraço). Nesse procedimento uma parte da fíbula (osso mais fino da perna) e uma porção da pele da perna é retirado de uma das pernas juntamente com os vasos sanguíneos que levam circulação ao osso. O osso é colocado na área de perda óssea e fixado com placas e parafusos. O segmento de pele é usado para reconstruir a mucosa da boca. A seguir os vasos sanguíneos da fíbula são suturados em vasos sanguíneos da região (geralmente nos vasos faciais) para restaurar a circulação do osso implantado. Indicamos a reconstrução com segmento do rádio e pele do antebraço nos casos de pacientes que têm problemas circulatórios graves na perna e em pacientes que necessitam de grandes segmentos de pele para reconstruir defeitos na mucosa da boca e/ou pele da bochecha. Esses procedimentos permitem que sejam colocados implantes no osso transplantado e que a dentição seja refeita, geralmente 6 meses após a cirurgia.

CASO CLÍNICO 1

Perfil - ANTES
Perfil - DEPOIS
Frente - ANTES
Frente - DEPOIS
Tomografia computadorizada mostra destruição óssea extensa da hemimandíbula direita.
Moldes tridimensionais foram confeccionados para planejar a reconstrução com microcirurgia.
Moldes tridimensionais foram confeccionados para planejar a reconstrução com microcirurgia.
Foi ressecada a metade direita da mandíbula que já estava muito comprometida pelo tumor.
Planejamento da incisão na perna para a reconstrução com a fíbula. Tira-se também um pequeno segmento de pele para reconstruir parte da mucosa da boca.
Osso da perna é cortado em vários segmentos para recriar as curvaturas da mandíbula.
Os vasos sanguíneos que vão para a fíbula são suturados em vasos sanguíneos na região do pescoço com microcirurgia.
A fíbula é então fixada no restante da mandíbula com placas e parafusos.
Radiografia mostra boa incorporação do osso da perna na mandíbula.

CASO CLÍNICO 2

Paciente submetido a cirurgia de ressecção da parte central da mandíbula e partes moles da boca. Foi reconstruído com retalhos locais do músculo peitoral e trapézio, sendo que evoluiu com necrose e perda dos retalhos.
Como resultado, o mesmo ficou sem a cavidade bucal, extrusão da língua e incapacidade de se alimentar e respirar adequadamente, exigindo o uso de sonda nasoenteral e traqueostomia definitiva.
Tomografia computadorizada mostra ausência do arco central da mandíbula.
Planejamos um grande retalho do antebraço incorporando uma parte do osso do rádio para reconstrução óssea e da pele interna e externa da boca.
Retalho já dissecado, mostrando os cortes no osso para recriar o formato da mandíbula.
Foto do paciente 1 ano após a cirurgia mostrando grande melhora estética.
O mesmo não mais necessita do uso de sonda enteral nem de traqueostomia.
Tomografia computadorizada mostrando boa incorporação do osso transplantado na mandíbula.

RECONSTRUÇÃO DO ESCALPO

Em fraturas expostas graves ou complicadas por infeção frequentemente temos perda óssea em graus variáveis. Nesses casos, a conduta vai depender da extensão de osso perdida.Em pacientes com perda óssea menor que 4 a 6 cm, indicamos a reconstrução com enxertos ósseos convencionais retirados do quadril ou usamos um fixador externo (chamado Ilizarov) para crescer o osso no local. Em lesões com perda óssea maior do que 6 cm recomendamos o transplante microvascular da fíbula em combinação com o enxerto ósseo retirado do quadril.

Nesse procedimento uma parte da fíbula (osso mais fino da perna) é retirado do lado não afetado juntamente com os vasos sanguíneos que levam circulação ao osso. O osso é colocado na área de perda óssea e fixado com parafusos. A seguir os vasos sanguíneos da fíbula são suturados em vasos sanguíneos da região para restaurar a circulação do osso implantado.

O resultado com esses procedimentos é muito bom, e a maioria dos pacientes tem uma recuperação adequada.

CASO CLÍNICO

Paciente foi operado de um tumor maligno no cérebro seguido de radiação. Como complicação desenvolveu necrose de pele na região, deixando exposto as meninges (membrana que cobre o cérebro). Feita reconstrução com retalho retirado da coxa com bom resultado.

RECONSTRUÇÃO DA LÍNGUA E OROFARINGE

A língua quando removida parcial ou totalmente causa problemas com a mastigação, deglutição e fala. Recomendamos a reconstrução desse órgão após a ressecção por tumores malignos sempre que possível. Temos bons resultados com a reconstrução da língua com microcirurgia, usando retalhos do antebraço ou retalhos da coxa (quando há a necessidade de uma maior quantidade de tecidos para a reconstrução).

A reconstrução de ressecções da orofaringe (estruturas importantes para a deglutição) pode ser feita com retalhos microcirúrgicos do antebraço ou coxa, a depender da extensão do defeito e necessidade de reconstrução concomitante de outras áreas.

RECONSTRUÇÃO DO NARIZ

O nariz é o ponto central da face. Cirurgias para câncer que envolvem a retirada parcial e total do nariz causam uma deformidade grave na face, levando o paciente a restringir o convívio social. Nesses casos, a reconstrução com microcirurgia pode ser feita de modo a restaurar o nariz de uma maneira bem cosmética e funcional. Essas reconstruções geralmente são feitas em vários tempos e usamos uma combinação de retalho microcirúrgico do antebraço. O retalho pode incluir, além da pele, uma porção óssea do rádio se houver a necessidade de uma reconstrução total do dorso nasal (reconstrução total do nariz) ou podemos utilizar cartilagem da costela para esse fim. Algumas vezes retiramos também cartilagem da orelha. Em alguns casos associamos retalhos com pele da testa para dar o acabamento final. Já que essa pele tem uma textura e coloração semelhante a pele do restante da face.

CASO CLÍNICO

Paciente submeteu-se a resseção de um tumor envolvendo o nariz. Houve necessidade de remoção da totalidade do septo nasal, cartilagem do dorso e parede lateral do nariz
Realizamos a reconstrução do septo com um retalho do antebraço...
...e um pedaço de cartilagem retirado da costela.
Resultado pós operatório, mostrando melhora importante do aspecto externo do contorno nasal.