Reconstrução dos Membros

GENERALIDADES

As cirurgias de reconstrução dos membros estão indicadas após traumas graves, ressecções de tumores malignos e defeitos congênitos.

Nesses casos pode haver perda de (1) cobertura cutânea, (2) osso, (3) nervos, (4) vasos sanguíneos e (5) músculos e tendões.

Nessas reconstruções procuramos fazer a reconstrução adequada de todos os tecidos afetados para obtermos o melhor resultado estético e funcional possível. Para isso lançamos mãos de uma grande variedade de procedimentos cirúrgicos. Dentro deles, a microcirurgia apresenta lugar de destaque.

RECONSTRUÇÃO DO REVESTIMENTO CUTÂNEO

Nos pacientes que sofreram trauma grave da extremidade ou pacientes que.se submeteram a ressecção de tumores malignos, frequentemente observamos grande perda de pele.

Para reconstruir esses defeitos em certas lesões há a possibilidade da utilização de tecidos nas proximidades da lesão para fechar o ferimento. Entretanto em muitos casos, particularmente nas lesões mais extensas, indicamos a reconstrução com microcirurgia que possibilita os melhores resultados.

O procedimento é chamado de retalho microcirúrgico. Consiste na retirada de um segmento de pele juntamente com os vasos sanguíneos. A seguir essa pele é implantada na região que está sem pele e os vasos sanguíneos são suturados em vasos locais com o microscópio cirúrgico.

CASO CLÍNICO

Paciente adulto jovem sofreu fratura exposta grave de tíbia...
...e evoluiu com necrose e perda cutânea com exposição óssea.
Retiramos a pele morta e fizemos a cobertura com um retalho retirado da coxa.
5 meses após a cirurgia, observa-se boa cicatrização da ferida e bom aspecto estético.

RECONSTRUÇÃO ÓSSEA

Em fraturas expostas graves ou complicadas por infeção frequentemente temos perda óssea em graus variáveis. Nesses casos, a conduta vai depender da extensão de osso perdida.Em pacientes com perda óssea menor que 4 a 6 cm, indicamos a reconstrução com enxertos ósseos convencionais retirados do quadril ou usamos um fixador externo (chamado Ilizarov) para crescer o osso no local. Em lesões com perda óssea maior do que 6 cm recomendamos o transplante microvascular da fíbula em combinação com o enxerto ósseo retirado do quadril.

Nesse procedimento uma parte da fíbula (osso mais fino da perna) é retirado do lado não afetado juntamente com os vasos sanguíneos que levam circulação ao osso. O osso é colocado na área de perda óssea e fixado com parafusos. A seguir os vasos sanguíneos da fíbula são suturados em vasos sanguíneos da região para restaurar a circulação do osso implantado.

O resultado com esses procedimentos é muito bom, e a maioria dos pacientes tem uma recuperação adequada.

CASO CLÍNICO

Paciente de 40 anos sofreu fratura exposta de fêmur e evoluiu com infecção. Já se submeteu a 6 procedimento cirúrgicos anteriores. RX mostra grande encurtamento, perda óssea e fragmentos ósseos desvitalizados. Na cirurgia fizemos a ressecção do osso desvitalizado e colocamos um fixador externo para ganhar comprimento e estabilizar a fratura. A reconstrução foi feita com o retalho microvascular da fíbula retirado da outra perna. A fíbula foi fixada ao fêmur com parafusos. Foram feitas anastomoses (suturas) vasculares dos vasos sanguíneos da fíbula com os vasos femurais e veia safena. A seguir colocamos enxerto ósseo do ilíaco para aumentar a espessura da fíbula. Paciente 3 dias após a cirurgia mostrando viabilidade de pequeno fragmento de pele que foi retirado junto com o osso. Aspecto do fêmur 6 meses após a cirurgia mostrando consolidação da fíbula e enxertos.

RECONSTRUÇÃO VASCULAR

Muitas vezes ocorre amputações de partes dos membros como dedos, mão, etc. Nesses casos é necessário a reconstrução vascular imediata para restaurar a viabilidade da extremidade amputada. Trata-se da cirurgia de reimplante. Além dos vasos sanguíneos, outros tecidos como osso, nervos, tendões e pele precisam ser reparados. Trata-se de um procedimento elegante e complexo onde é necessário o emprego da microcirugia. Os resultados são muito gratificantes para o cirurgião e, sobretudo para o paciente.

Em outros casos, a extremidade foi gravemente lesada, mas não foi totalmente separada do membro. Nos casos em que há lesão vascular grave, deve-se reparar esses vasos na urgência. O procedimento é chamado de revascularização.

RECONSTRUÇÃO DE MÚSCULOS E TENDÕES

Tendões e músculos são frequentemente lesados em traumas graves dos membros. O diagnóstico é feito ao avaliarmos o local da lesão e a deficiência em certos movimentos da extremidade. Essas estruturas necessitam de reparação para que se consiga bons resultados com a reconstrução. Podem ser reparados com sutura unindo os cotos proximal e distal. Caso tenha havido perda de parte do músculo e tendões, pode ser necessário a interposição de enxerto de tendão (segmento de tendão retirado de outra área do corpo que não faz falta). Em casos em que há grave perda da musculatura, a reparação não é possível. Nesses casos lançamos mão das transferências musculares. Nesse procedimento músculos sadios são transpostos e reposicionados de modo a restaurar as funções perdidas.

RECONSTRUÇÃO DOS NERVOS

Em membros com lesão graves, frequentemente temos lesões de nervos. A lesão do nervo resulta em paralisias e grave déficit de função e necessitam serem reparados por meio de sutura dos cotos nas lesões mais simples e quando não decorreu muito tempo da lesão. Nos casos em que já há 1 a 2 semanas após a lesão, geralmente não conseguimos sutura o nervo diretamente, já que as extremidades dos nervos já estão mais afastadas. Nesses casos utilizamos o enxerto de nervo (que servem como uma ponte entre as extremidades do nervo) na reparação. Em casos mais crônicos (mais de 1 ano da lesão), já há um comprometimento muito grande e não está mais indicado a reparação do nervo. Nesses casos a função pode ser restaurada pelas transferências musculares. Nesse procedimento músculos sadios são reposicionados de modo a restaurar as funções perdidas.

CASO CLÍNICO 1

Paciente sofreu ferimento cortante no pulso com lesão do nervo ulnar e múltiplos tendões.
O nervo foi reparado com microcirurgia e os tendões foram suturados. O paciente evoluiu bem com bom retorno da sensibilidade da mão e função motora.

CASO CLÍNICO 2

Paciente de 22 anos apresentava lesão do nervo radial com evolução de 5 anos. Nesses casos a musculatura já atrofiou e não é possível mais reparar o nervo.
Nesses casos optamos pelas transferências musculares, procedimento em que transferimos músculos saudáveis para a função perdida pela lesão nervosa.